terça-feira, novembro 22, 2005

X ATO

A barriga parecia que lhe faltava, em tremilicos furiosos periódicos não o deixava esquecer sua complicada situação. Olhava para as palmas das mãos, todas sujas de maquiagem escorrida do rosto, de tanto esfregar a cara molhada de suor de agitação. Andava de um lado para o outro, todo preocupado, queria falar consigo mesmo "acalme-se homem, oras!", mas a voz não saia. Saía apenas um assoviozinho, "lá do esôfago" pensava, mesmo não sabendo onde isso seria. Resolveu parar e encostar-se contra as montanhas da cenografia. Atrás dele um público que fácil fácil daria, ô se daria, para encher um campo de futebol. Estava terminando o nono ato da peça e em breve, no décimo ato, seria o final. O final de sua ansiedade, que agora lhe matava, ou o final de sua carreira como ator de teatro, com que tanto sonhava? Não sabia. Sabia sim os sinais, todos eles, indicando a hora de sua entrada, e eles estavam se acabando, um por um, como sinos anunciando a hora tão esperada. Um trago, era só o que queria para fazer pesar menos o fardo, mas não era seu direito. De repente teve um momento de inspiração, parou e pensou a respeito, sentiu-se pois confortável naquela fração. Onde antes apenas encontrava a tragédia agora encontrava a encruzilhada também. Realizou que aqueles poderiam ser seus últimos momentos antes do estrelato, do fim do anonimato, de que poderia vencer umas cinquenta vezes em cem. Tinha ainda a derrota, é claro, não havia descartado, mas configurou-se alí um daqueles momentos em que gostaríamos todos de prolongar até o infinito: próximos da derrota mas fazendo em nossas cabeças o final mais bonito. Mais bonito ainda que o real deixa e por medo de que assim não seja, de que seja apenas médio, adoramos ainda mais os segundos da espera do que as horas do sucesso. Contagem regressiva para o décimo ato, sua angústia volta em excesso, a correria atrás do palco, a suadeira de regresso. Estava ainda imerso em devaneio total quando finalmente foi dado o último sinal. Entrou em cena, estufou o peito, abriu os braços para interpretar. Por fim sorriu, porque havia acabado a espera e porque se achava a árvore mais bonita que uma peça de teatro jamais tivera.

(Shoto-ken/06)

8 comentários:

G.G. disse...

sem polemica. sem lenha na fogueira. sem coisas bestas. sem foto. (hoje)

texto MUITO bem feito, nem por isso deprimente.

Anônimo disse...

Realmente!!!
O texto é muito bem feito.As palavras forma escolhidas uma a uma. Também não encontrou-se erros de português.
É uma pena que este texto seja chato pra diabo e não signifique patavina nenhuma.

Pires

G.G. disse...

onde esta sua sensibilidade, pires de leite?

Anônimo disse...

não gostei.

Anônimo disse...

digo: não sou eu. o texto é que é ruim.

caso isso não seja ÓBVIO para todos, posso dar mais informações.

G.G. disse...

eu gostei.

Anônimo disse...

gabi: não há problema nenhum em gostar de um texto maomeno. ele só não está 'muito bem feito'.

dá pra pôr shakespeare num gráfico, disse o professor dickhead assassino de adolescenetes do sociedade dos poetas mortos.

G.G. disse...

hum.... bom, ele foi escrito por um jovem que não escreve.
injusto comprar com drummond.
posso ter me impressionado.
mas eu gostei muito.
e acho que cara tem futuro.
=]