terça-feira, janeiro 28, 2014

O Jeitinho e o Segurança de balada


Me perdoem os bons brasileiros se eu, em minha medíocre existência porventura criticar sua pátrica amada, idolatrada (salve, salve): os Estados Unidos.
Não sei se estou certa, também não quero dizer que o Brazil é um pais melhor que os EUA. Nem medir numa balança quantos problema se quais pesam mais em uma competição Brasil x EUA. Apenas quero acalmar os animos dos brazucas, sempre tão humilhados pelos seus iguais. A gente enxerga aquilo que quer enxergar - se você quiser enxergar problemas no Brasil, vai se deliciar com a tarefa. Mas a gente não precisa "pegar tão pesado" nas auto-criticas. Tem sempre "um jeitinho" de olhar que pode diminuir o problema...

Sim! O jeitinho! É dele que eu quero falar... E cheia de dedos, começarei.. Mentira, sou polêmica, vou direto ao ponto sem dedos mesmo: Acho que concordamos que "dar um jeito" em tudo é uma habilidade que exige criatividade, flexibilidade e empatia - e pode ser usada para o bem ou para o mal. No Brasil temos infinitos casos de uso para o mal, como corrupção, suborno, gambiarra, abuso de poder, etc. Geralmente, a conotação jeitinho é para corrupção ou outras gambiarras para benefício próprio. Porém, o mesmo jeitinho também "bota água no feijão pra vir mais um".  Muitas vezes o jeitinho é dado quando o 'outro lado' entende que a regra não é muito coerente e usa o bom senso para quebrar a regra com uma exceção.

Hoje estava ouvindo uma rádio de Boston e discutia-se uma polêmica: Aprovação (ou não) de uma lei que permite habilitação para imigrantes ilegais. Na rádio pessoas ligavam e diziam que "não existe mais regras nos eua", se "é ilegal como pode ter carteira de habilitação regulamentada?"

Veja bem... Será que isso não é um jeitinho brasileiro modelo exportação? O que ficou na minha cabeça é que os EUA paraece que quer institucionalizar "o jeitinho" quando é para benefício próprio (dos americanos ou do Estado). Vamos aos fatos: qual o interesse dos EUA deportar essa massa de imigrante ilegais que trabalham por um valor muito abaixo de um cidadão americano, faz o trabalho sujo, não custa os mesmo benefícios de um cidadão americano e alguns muitos nem podem reclamar das condições de trabalho pois convivem com a ameaça de ser deportado - vide documentários sobre alimentos nos eua, onde mexicanos trabalham em regime semi escravo. De vez em quando a fiscalização vai la e prende um ou outro imigrante, mas, por ironia (ou jeitinho) nunca se prende o patrão americano que os contratou, mesmo que este vá até o méxico colocar anúncios atrativos para que as pessoas vá trabalhar para ele.

Porque, como ouvimos no Brasil, "nos EUA regra é regra, não tem jeitinho"... Não além do jeitinho que é institucionalizado pelo governo. Imigirante ilegal aqui é "ilegal pero no mucho". Tem conta em banco. Pode comprar carro. Pode casar no papel, alugar casa e tem até um plano de saúde para imigrantes ilegais. Só não pode ser americano e ser tratado como igual, porque aí já é forçar a barra, o governo vai ter que gastar com eles e o salário pode aumentar: não há economia que se sustente! Até consigo ouvir uma vozinha brazuca dizer "os caras são tão eficientes que até o jeitinho eles profissionalizaram" - e assim consideramos os EUA melhores em TUDO, até no jeitinho. Benzadeus, isso é que é organizacão!

Em algumas esferas mais abaixo, saindo da perspectiva global... Eu sinto falta do jeitinho. Não por necessidade de corrupção! Mas por bom senso e empatia. As vezes esta "falta de jeito" é falta de tato e dá a impressão, na maioria das vezes verdadeira, que existe má vontade do outro lado. Uma das frases que está me irritando MUITO ultimamente é "I'm sorry" - Urgh! "No, you aren't! And yes, you can do it!". "I'm sorry, I can't do this"é a frase mais "braço curto" que você vai ouvir quando insistir em alguma coisa. E eles dizem repetidamente, por isso me irrita. I'm sorry muitas vezes quer dizer: "não tem nada que eu possa fazer, sai da minha frente".
Por exemplo, compramos um liquidificador na Macys, na black friday e pagamos $90. Porém, depois de usado 1 vezes ele pifou. Voltei na loja e no balcão de atendimento a atendente já reclamou que eu estava devolvendo 'mais de um mes depois' . Expliquei que liquidificador não é um item que uso o todo dia para testar se ele continua funcionando, por isso demorou para notar que não ligou na segunda vez. Bufou, fez o estorno. Eu queria o mesmo liquificador, então ela disse que teria comprar um novo no preço atual, uns $130. Tentei argumentar e ela "I'm sorry", não posso fazer nada. Pisei firme. Insisti "porque eu sou brasileira e não desisto nunca". Ela disse que estava sorry, e para fazer o mesmo preço ela precisaria falar com a gerente. Eu disse que esperaria e continuei ali na frente dela (isso os irrita). Ela ligou e a gerente não estava na mesa "I'm sorry", não tem ninguém na mesa. Não sai do lugar. Então ela tentou ligar pra outra pessoa e falou a situação e pronto, aprovação do preço por telefone em menos de 5 segundos - prático como EUA quando não está sorry.

Não é o único exemplo. E nem todo jeitinho dói outrém. Agendei meu teste de direção por telefone, sexta X de Novembro 4 pm. Não tinha carro e você precisa levar um que preencha todos requisitos do site. A locadora que me alugou um carro pra dirigir onde eu quiser no eua sem limite estava "sorry" que não poderia me autorizar a usar o carro em um teste de direção (só em todos os outros lugares). Pedi a uma colega de trabalho que mal conheço duas coisas que eu considero quase prova de amizade verdadeira: o carro emprestado e se ela poderia me acompanhar no teste como sponsor (no horário de trabalho) - porque eu posso digigir na estrada com carteira de motorista do Brasil, mas para fazer o teste preciso de acompanhante. Chegando lá na hora agendada, a má notícia: algum engano e a prova foi marcada para 31 de Dezembro (e eu estaria viajando na data). O avaliador estava sorry, disse que não tinha nada que ele poderia fazer. O motorista que realizaria o teste as 4 faltou, ele teria que ficar sentado 1 hora na mesa dele esperando o compromisso das 5. Minha colega insistiu. Ele estava mesmo sorry, e não pode me avaliar porque meu nome não esta na lista - a lista era um papel sulfite com nomes. Eu teria que ligar para agendar. Ele se sentiu sorry de novo porque o coordenador estava ocupado e não poderia autorizar isso de forma rápida. Realmente ele sentia muito porque ele repetiu isso umas doze vezes, e recomendou reclamar do atendimento já que eles agendaram dia errado. Mas ele não poderia fazer nada, além de esperar 55 min o motorista das 5 e se sentir sorry por mim. Posso estar enganada, mas no Brasil uma pessoa terrível e corrupta iria dar um jeito nisso, e ao invés de ficar coma bunda sentada na cadeira já que havia uma janela estava disponível por uma falta e eu tinha pronto para o teste estava no horário - do dia que agendaram errado. No Brasil eu sinto que teria feito a avaliação - porque não prejudicaria ninguém e o procedimento era passível de "gambiarra". Que país horroroso!

Para fazer a prova escrita também tive problemas e tive que voltar outro dia. Precisava levar um sulfite impresso, o formulário I-94 que é usado na requisição do social security - porque somente o passaporte não comprovava que minha data de nascimento era a do passaporte. Pelo que o Ale me disse, ele fez a prova sem levar este formulário para comprovar que a data de nascimento do passaporte está correta. Será que algum brasileiro atendeu ele? Não tive a mesma sorte engraçado que o mesmo passaporte é o único documento necesário para comprovar sua idade em um restaurante, e te permite pedir bebidas alcólicas. Mesmas bebidas que eu consigo comprar em liquors usando minha carteira de  motorista brasileira em portugues, nem pasaporte precisa. Mas esta não é aceita em restaurantes como comprovante de idade (só em liquor store). Além de ter muitas regras, elas nem sempre são coerentes. Algumas vezes não vejo muito ganho seguir todas as regras já que elas não apontam pra mesma direção.

E qual é a moral da história? O problema não é o jeitinho em sí, o problema são pessoas que não tem ÉTICA usarem o jeitinho para benefício próprio - e malefício dos outros. Quando o jeitinho acomoda todos em situações "ganha-ganha", bóra fazer valer e alinhar estas regras "na unha"! Me orgulho das pessoas éticas que sempre dão um jeitinho criativo para fazer a vida de outras mais fácil. E também a mesma admiração a quem usa a regras no preto e branco para que todos possam ser mais iguais. Entendo e concordo que políticas das massas a gente tem que fazer a regra valer para que tudo funciona melhor, e não a do jeitinho - e por isso nossa admiração a um país que aplica regras  a rigor.
Mas algumas regras não trazem benefícios a ninguém e nem a um conjunto de pessoas, pessoas que questionam regras não são necessariamente baderneiras. E algumas pessoas que quebram as regras não são necessariamente corruptas. As regras existem porque o bom senso não pode ser lei.

Na esfera pessoal, temos diferentes papéis. Os que executam regras sem questionar são os chamados  "segurança de balada". Não acho que precisamos seguir esta filosofia para ser uma país decente. Precisamos refazer e melhorar as regras, tornar a burocracia eficiente, incentivar a ética e punir corrupção - não vamos fazer revolução e um país melhor de se viver simplesmente acabando com jeitinho. Poderíamos lavar, polir e usar o jeitinho como patrimonio cultural - já que vivemos em um país "tão sem cultura", dizem por aí...

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