sexta-feira, fevereiro 21, 2014

O machismo me deu bolas...

Introdução: Como mulher honesta que me tornei, não posso deixar de agradecer o machismo por ter me tornado uma pessoa mais interessante durante minha adolescencia e talvez vida adulta também. Quando atualmente tentei defender o feminismo, ouvi reclamações de meninos dizendo que mulheres se beneficiam do machismo, e eles não se consideravam machistas e reclamavam que viam muita "mulher machista" que exigiam deles um cavalheirismo desigual. Eu acreditava piamente que eu não fazia parte deste grupo, afinal eu pago minhas contas e tenho minha independência. Porém, colocando a mão na consciência, venho aqui me redimir. Tirei muita vantagem, mas esta longe de ser esta vantagem que estes caras acham que é, é muito mais discreta.



O machismo me incentivou ser uma menina mais culta para não deixar que os meninos tenham razão quando dizem que as mulheres só sabem falar sobre roupas, maquiagem e que não entendem de futebol. Me incentivou a conhecer outros assuntos, se possível mais que os meninos, para que eu não gagueje em uma conversa sobre "coisas nerds", tecnologia, futebol, música, matemática, política e ciência. O machismo não me deixa vacilar, não quero dar a eles um argumento numérico para provar que assunto que mulher domina é restrito aos produtos femininos, que elas não fazem parte  - porque não tiveram capacidade para fazer parte - da histórica política e científica no mundo, contribuindo com uma boa representação feminina.

O machismo me ajudou a buscar uma excelente carreirra, me incentivou a disputar meu salário com meu parceiro para mostrar economicamente que mulher pode ter poder economico e administrar uma familia financeiramente. Caso meu salário não fosse comparável ao do meu parceiro, eu correria o risco de ser uma dona de casa maria-nugém da Silva dependente do marido - e dependente é o adjetivo mais vergonhoso que uma pessoa pode carregar. Este patriarca exigente cobra dos dois lados: do lado do homem, que seja provedor e responsável finceiro; E do lado da mulher, que que não quer ser chama de "maria-niguém", supere o provedor e continue com os deveres de maria depois do expediente. Porque o machismo mostra esta relação como dominante x dependente, não como uma relação de colaboradores de uma mesma família.

O machismo me fez curtir balada talvez melhor que os homens. Não precisava ter iniciativa, era só ficar lá gostosona esperando os meninos chegarem e exigir criatividade na cantada. Exigir beleza. Exigir que não fale muito para não estragar a sensualidade. E quando eu tinha alguma iniciativa, os mais coxinhas, ou seja, os meninos que não me interessavam, poderiam me achar muito "saidinha para uma menina". Os mais interesssantes adoravam, eu eu ganhava pontos por simplesmente fazer, digamos, a mesma "obrigação" que o outro lado tem de "dar a cara a tapa". Esta cultura macho-alfa me facilitou muito o dividir "o joio do trigo".

O machismo também me deu bolas e o feminismo encheu o meu saco. Nas minhas atitudes mais corajosas, eu era admirada como "muito macho" para fazer. Se eu queria humilhar um amigo e ridicularizar seus sentimentos, era só dizer a ele "quanto mulherzinha" ele estava sendo. Ninguém gosta de ser chamado de mulher-zinha. E quando eu queria dizer algo mais frouxo e algum amigo me recriminasse, respondia que "eu posso ser gay, você não". As vezes o machismo me permitia até me fingir de louca ou de muito burra, desde que no final eu emendasse com o argumento que "isso era coisa de mulher". Todo mundo perdoa erro, desde que você atribua isso a espécie correta. Se o machismo tem suas regras, eu as seguia muito bem!

O machismo me fez ganhar muita moral de meninos quando dizia que "não fazia coisas de menina... E as mulheres tem o que elas merecem". Que gostava de jogar futebol, gostava de rock, não fazia as unhas, não era consumista e não sabia o que estava na moda. No machismo as pessoas são caricaturas de hoemns e mulheres, então foi fácil: era só se comportar no conceito oposto desta caritura de "o que a mulher representa no mundo machist"' que os meninos me colocavam num pedestal e me veneravam incansavelmente. Neste pedestal, todas as criticas contra mulher não se aplicam mais à você, afinal agora você não mais considerada mulher, você virou a musa da exceção. Não se irrite com piadinhas mahcistas porque elas não se aplicam a você: só as outras mulheres.

O machismo me fez me aproximar muito mais dos meninos, que não tendos os requisitos de macho-alfa eram marginalizados. Eles eram mais empáticos (porque sensível é coisa de homem efeminado) e mais inteligentes que os demais. As mulheres que aparecem na televisão, novela, propaganda e filme porno nunca desejam estes meninos normais, alternativos ou nerds. Então eu vestia minha camisa do "eu também odeio mulheres, são todas fúteis e gostam de homens cafajestes" e corria pro abraço deles. Obrigada machismo, foram tantos abraços apertados, desabafos e conversas de sentimentos sinceros. E sim, era real que eu també odiava "as mulheres", sem saber que odiava as mulheres que o universo machista criou, e não as mulheres reais. Estas mulheres que só falavam de roupa, que criticavam meu estilo e perguntavam porque eu não fazia a unha. O machismo é um odiador das mulheres. E eu odiava junto com a mesma intensidade e cumplicidade deles.


Obrigada, machismo, pela cartilha de como ser uma pessoa melhor e menos sexy, e convencer os meninos acreditarem que eu era diferente, por ser um ser humano inseguro igual a eles. Ganhei doces, bilhetes e gentilezas pelo bom comportamento... mas ainda sei que os agrados que o machismo me deu foi pra tentar me comer.

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