segunda-feira, março 31, 2014

EU NÃO MEREÇO SER ESTUPRADA

...O que você faria?

Se estivesse em uma lanchonete e chegasse uma menina obviamente "caindo de bebada". Logo em seguida chega um estranho e, 'vendo vantagem na situação', se aproxima e tenta convence-la de ir para um motel ou outro lugar (não sabemos qual, afinal ele é um estranho). Como as pessoas na lanchonete reagem ao notar isso?
Um programa americano fez o teste, com atores e cameras escondidas. Algumas pessoas vendo que a menina não tinha nenhuma consciencia do que estava fazendo, tomaram partido e tentaram impedir o estranho de levar a menina vulnerável dali. Em entrevista após a 'pegadinha', um dos homens que reagiu impedindo o rapaz de levar a menina até chorou ao explicar para o reporter o que o motivou a interferir: "a menina lembrava minha filha, por isso não deixei que isso acontecesse com ela".
Este teste trouxe uma supressa boa e nos fez até voltar a ter fé na humanidade. Mas o teste não acaba aqui. No teste seguinte, mudaram um pouco o cenário: a menina contiava com a mesma idade, porém, com roupas e comportamentos "piriguete". O resultado foi um desastre total, muito pior do que se poderia imaginar. Sem mais spoilers, veja o vídeo aqui e entenda porque a fé na humanidade acaba depois do segundo teste (depois continue lendo o texto): https://www.youtube.com/watch?v=V5Iyx6bShas
Este simples experimento, que provavelemnte omstraria resultados similares em boa parte do mundo, deixa muito claro que as mulheres NÃO PODEM ter a mesma liberdade de comportamento que os homens, pois fazendo isso elas estão muito mais vulneráveis a violência. Não precisamos desta caso apenas, mas aqui fica muito evidente que julgamos as pessoas pelo que elas "se parecem", da forma mais superficial que existe. E a partir do momento que colocamos um rótulo em uma pessoa, critica-la se torna uma tarefa simples. Casos como este (e no Brasil o experimento real "Geisy Arruda") mostram que roupa, além de cobrir o corpo, grita 'se você quer ter respeito ou não'. Violentadores separam as pessoas assim, você e eu as vezes também nos pegamos pensando assim. Só porque a maioria e só porque está enraizado na nossa cultura, não quer dizer que este pensamento é aceitável - e não precise ser mudado 'para ontem'. Esta cultura das cavernas incentiva a violência física, verbal e moral.


"Um navio está seguro no porto. MAS não foi para isso que os mesmo foram feitos" - John A Shedd.

No meio desta confusão da campanha "Eu não mereço ser estuprada", li este comentário de um colunista de um jornal influente no Brasil, criticando o IPEA (orgão que realizou a pesquisa) alegando que o problema dos 65% que acham que merecem ser atacadas foi um problema de comunicação. O argumento dele é que o uso da palavra atacar foi errado e que esta pesquisa está tentando enganar a gente: http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/03/28/a-culpa-do-estupro-nao-e-da-mulher-mas-a-da-confusao-e-da-pesquisa-do-ipea-essa-sim-merece-ser-atacada/

Tenho certeza que o que ele pensa é o mesmo que muita gente com boas intenções pensam. Concordo que “Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros” pode ser interpretada de duas formas diferentes, embora discorde dos argumentos lógicos para isso. Explico: Pode até ser em algumas poucas situações o "bom comportamento" desperte a empatia de alguém que impeça o estupro ao invés de incentivar. Acredito que comportamento assexuado não contruibiu (pelo menos não de forma representativa) com a diminuição significativa dos casos de estupro, até porque definição de bem comportado varia de pessoa para pessoa, quem respondeu tinha um idal de comporatemento que nunca vamos saber qual é. O colunista disse não fazer idéia "se o índice de estupros diminuiria se as mulheres vestissem burcas" - porém ele tem a certeza lógica de que saia curta atrai estuprador. Se saia curta atrai estuprador e isso é lógico, então deveria ser lógico também que cobrir o corpo evita estuprador. Não? Se ele fizesse um trabalho de pesquisa antes de publicar - afinal diz-se colunista cultural, poderia talvez ter uma idéia melhor: mostrar ou não o corpo não cria nehuma situação ideal para violencia sexual, mas sim a idéia de superioridade de um sexo sobre o outro. Ah amigo, quando algumas pessoas pequenas acreditam ser superiores a outras a catástrofe é garantida. Lembrando que a maioria dos casos de violencia sexual acontecem dentro de casa ou em um círculo muito proxima: vizinhos e parentes. Se a maioria acontece em situações onde o agressor conhece a vitima e sabe quando atacar sem ser visto,tem o poder de controle da situação e enxerga "roupa de ficar em casa" como "roupa provocante"... Não tem comportamento santo que segure esta besta desenfreada. Se o vizinho acha que seu pau e exitação é maior que o ser humanos indefeso ao lado, esta é a motivação dele. A lógica dos casos de violência sexual não é de forma alguma a mesma lógica usada em relacionamentos HUMANOS onde uma pessoa é atraida pela outra. Já que chamamos estupradores de doentes, precisa-se entender o que uma mente doente "não-pensa" de diferente da nossa. O que mais atrai este doente é a vulnerabilidade da vitima, não a "sexibilidade". Se estiver vulnevável de moletom, vai ser vitima de moletom. Se estiver vulnerável de saia curta, vai ser uma vítima de saia curta.

O resultado da pesquisa não diz "quem é a favor do estupro", para esta estatística basta ver o índice de estupros e temos a resposta - que é bem preocupante. Mas o resultado mostra bem a lógica popular e a tolerência em relação ao assunto e a como estamos propensos a culpar a vítima. Mostra em forma de estatística o ambiente e cenário propício para violencia sexual aconteça. Vivemos no contexto cultural pefeito a favor da violencia sexual porque nossa cultura machista é uma fábrica de vender (até de graça) vulnerabilidade contra a mulher.

Dizem que o povo é burro (e se a gente ler comentários de artigos podemos dizer que sim), mas alguém discorda que "a ocasião faz o ladrão"?

Explico onde quero chegar com isso: você leu o que o estuprador do metro de SP explicou o que fez? "Infelizmente aconteceu", foi uma fatalidade. Não minto, veja você mesmo: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,desempregado-e-preso-por-estupro-na-estacao-luz-da-cptm,1141897,0.htm.  Até aquele dia infeliz do metro, ele não era estuprador e talvez até se considerava contra o estupro. Tão contra, e ainda é contra, que ele disse "que infelizmente aconteceu", deixando claro que ele sabe ou reconhece ser "uma coisa feia". Se não fosse a ocasião (do simples aperto do onibus?), não teriamos este ladrão. Se o IPEA perguntasse para ele um mes antes "mulheres que mostram o corpo merecem ser estupradas?" nós vamos pensar que ele responderia sim? E como identificar quem seriam estes "ladrões ocasionais" através de uma pesquisa? Ou quais seriam as mulheres/homens que diriam "mas também, com esta roupa?".

Uma sugestão desta outra pesquisa americana foi omitir palavras fortes como ESTUPRO para identificar estupradores - acredito que o IPEA pensou em algo parecido. Veja que interessante a mudança de resultado: http://www.upworthy.com/whoa-4-questions-that-got-120-rapists-to-admit-they-were-rapists-5

A pesquisa acima mostra que se perguntarmos se uma pessoa já estuprou ela provavelmente vai dizer que não. Mas se perguntarmos se ela "já teve que fazer algum tipo de força física ou pressão psicologica para que conseguisse efetivar uma relação sexual" a resposta pode ser sim. O que eu entendo disso é que, mesmo que ela grite que: não é a favor do estupro, se ela acredita que sexo se consegue usando a força física, ela tem potencial para ser um dado criminalistico. Só falta a ocasião certa.

Pesquisar com perguntas diretas resulta em respostas prontas e óbvias. Não sou especialista em questionários, mas é alo que notamos em nossa rotina. Na minha opinião deveriamos discutir "o porque" destas respostas, e não fazer uma campanha 'contra a pesquisa e contra as campanhas' (Aqui  me refiro a esta campanha que pede para mulheres levantarem a plaquinha "eu não mereço ser enganada pelo IPEA"- http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/03/29/estupro-machismo-culpa-levante-a-plaquinha-eu-nao-mereco-ser-enganada-pelo-ipea-e-mais-maioria-defende-pena-de-morte-ou-prisao-perpetua-a-estupradores/). Qual o sentido disso?

Ladrão nem sempre admite que é ladrão ou diz que é a favor de roubar. Ao contrário diz: "fazendo justiça com as proprias mãos", "desviando"... Mas não é ladrão!!!Quem leu o livro "Estação Carandiru" do Drauzio Varella vai notar que na prisão só tem discurso santo.
Não sei quantos estupradores se consideram estupradores, alguns podem dizer que "estava dando o que ela queria". Um comentário recente de um posto me deixou chocada: um usuário do facebook disse que estupradores eram MONSTROS e não homens, que nem deveriam ser considerados homens. E  que ele obviamente contra o estupro. Porém, este mesmo rapaz, depois de muito abrir a boca (e o teclado), disse que apoiava a sociedade patriarcal, alegando que o homem deve sim ser o provedor "e dar a mulher o que ela precisa, e não o que ela pensa que ela quer". Eu não sei as outras mulheres, mas eu estou bem interessada em saber quem são estas pessoas contra o estupro, porém "querem me dar o que eu acho que eu quero", e 'mudar de calçada' quando avistar uma.

Somos muito bons em camuflagem, enganamos a todos e a nós mesmos com isso. Me lembro quando o presidente Bill Clinton disse na corte que não teve relações sexuais na casa branca. Mais tarde, quando perguntaram precisamente se "aconteceu sexo oral", ai ele disse que SIM. Mas ele não fez sexo e não traiu sua mulher, apenas recebeu sexo oral. Nossa lingua nunca foi e nunca será um meio preciso. Toda palavra é carregada de significados e imagens e bagagem cultural que variam de pessoa para pessoa.

Essa lógica do que "mulher merece ser atacada" não diz somente sobre o ato sexual fisico em sí, tanto que mulheres responderam pergunta sobre mulheres - e sei que as que responderam a pesquisa não são a favor do estupro. A resposta da pergunta ajuda a mostrar o quanto que mulheres perdem o status de "ser humano complexo" e são reduzidas a objeto sexual por suas escolhas de comportamento e roupa. Isso é muito claro na pesquisa, é como se perguntassem: "você acha que mulheres que te lembrem sexo, de alguma forma, não merecem o mesmo respeito de mulheres assexuadas?".
A palavra usada foi MERECER, por isso acho a pesquisa foi muito válida. Quem "merece" geralemnte esta fazendo algo para conseguir seu objetivo, ou "está pedindo algo". Os 65% obtidos como resultado é tão real que explica também a maré de comentários onde se discute que "o protesto está sendo feito sem roupa para auto-promoção e likes". Os número só ficam questionáveis quando nos damos conta que a menina que postou a foto recebeu "ameaça virtual" de estupro pela sem-vergonhisse, então dsconfiamos que este número pode na verdade maior.

Todo mundo já ouviu o termo "objetificação". Poucos sabem identificar e é realmente dificil. Para isso acho que este vídeo explica de maneira muita clara, didática e até divertida (em inglês) o que é a objetificação sexual da mulher, como isso afeta o comportamento social e nossa alienação sobre ataques, assédioss. Em outras palavras, como tudo isso "incentiva o ladrão": http://www.upworthy.com/sexual-objectification-what-it-is-why-its-damaging-and-how-we-change?c=ufb2


Voltando a reportagem onde diz que o estuprador "acessava uma página que incentivavam que homens molestassem mulheres justamente na Linha7-Rubi". Depois de ver o  link acima e entender mais sobre objetificação, você percebe que esta página acessada é o menor dos nossos problemas. E se fossem apenas 'páginas estáticas' e mensagem diretas ao assunto, a coisa seria bem mais fácil de identificar e acabar com ela. Mas como resume bem este vídeo, a mídia oferece uma massiva variedade de imagens e mensagens favoráveis a este pensamento "mulher = sexo", "homem = ser humano complexo". Enquanto continuarmos mostrando e COMPRANDO A IDÉIA de que homem pode tudo e mulher serve o homem... Os indices não vão mudar. Homens pode comprar qualquer produto que vem na TV direcionados a ele e sair usando "todo gostosão". Vai a mulher tentar fazer o mesmo e comprar um vestido curto que a modelo super poderosa veste e exala glamour e sair na faculdade com ele: não vai exalar glamour. Moça, a propaganda te enganou. Moça, a novela te enganou. Moça, Hollywood the enganou. Moça, o IPEA é o menor dos seus problemas...

Ok, e porque eu resolvi dizer tudo isso? Semana passada vi uma convocação que pedia para que as mulheres fizessem uma campanha para mostrar a indignação da pesquisa onde 65% dos entrevistados, maioria mulher, disse que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", postando uma plaquinha "Eu não mereço ser estuprada" com ou sem blusa. Confesso que não gosto de protesto com peitos, exceto o "marcha das vadias" porque eu acho que neste faz sentido. Mas claro, não fiz nada. E para minha supresa os dias seguintes foi uma avalanche deste assunto. Então resolvi dizer aqui o que eu acho do protesto. Quanto aos protestos em geral, eu sou da mesma opinião do Mujica: sou simpática aos protestos, mas eles não mudam nada. Minha simpatia é especial porque, parafraseando Quintana: "os protestos não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os protestos só mudam as pessoas".

Este protesto não vai fazer o número de estupro diminuir nem avisar os estupradores que eles não são bem vindos. Mas já mudou muita gente... E trouxe a tona um assunto que é sempre discutido muito superficialmente ou totalmente ignorado por ter uma "importancia menor". Claro, com tantos problemas para discutir fica dificil dar prioridade a qualquer coisa. No quesito chamar atenção para este assunto, a campanha conquistou sim seu objetivo. Meus sinceros parabéns as mulheres que tiraram a blusa e posaram com uma plaquinha. Vocês provavelmente enfrentaram comentários e críticas parecidas com os que as primeiras mulheres que resolveram fazer topless escutaram. E ao contrário de muitas respostas machistas (idiotas) que vimos por ai, sobre o incontrolável instinto animal masculino, elas podem andar de topless e os homens nem olham mais...
Acredito que o topless não aumentou o indice de estupro - mas aqui é só meu palpite, para este tema em específico eu não tenho dados numéricos. Mas tenho que dizer que esta campanha em específico não foi apropriada para fazer sem blusa, não temos contexto suficiente para isso. Não foi apropriada para esta cultura machista de merda que temos (desculpa, moça).

Eu não tenho a mesma coragem delas - eu faço textos longos que ninguém lê. Mas que não entendam a falta da minha foto na campanha como "não sei do que elas estão falando - todo mundo é contra esturpo". Nunca fui estuprada, porém citando apenas de algumas situações de transporte publico dá pra notar que é uma questão de SORTE: Já fui perseguida no metro, tive que sair correndo a estação inteira para despistar o sujeito, que nem escondia estar atrás de mim, pelo contrário, olhava malicioso e vinha chegando perto quando eu ia mais longe. Já peguei onibus de viagem onde o cara do meu lado disfarçadamente se masturbava (não quis dar escandalo, nem acusar o mesmo, porque obviamente ele iria negar e eu saria 'a louca do busão' - o onibus estava lotado, não dava pra trocar de lugar - e então coloquei minha sandádia entre os bancos para que ele não encontasse em mim e viajei uma hora com ele do meu lado). Já sentei na ultima poltrona de um onibus quase vazio e ganhei a companhia de um assediador tarado e babaca que queria que eu mostrasse meus pés pra ele. Já dormi num onibus de viagem e acordei com uma mão gelada de um adolescente que passava a mão no meu rosto pelo vão do banco, sentado no banco de trás. Passar mão na bunda e no peito no meio do metro apertado ou numa balada eu quase que "desencanei de ficar brava". Doo um pedaço do meu corpo coberto para alguns segundos de prazer do próximo, por caridade desta pobre alma infeliz que precisa apalpar uma bunda para satisfazer suas necessidades pessoais. Tenho dó. Mas tenho medo também, toda mulher sabe que se xingar o cara que passou a mão na bunda ele vai te xingar de vadia. Ainda bem que só ando de carro agora. Só rezo para que nada aconteça quando fura o pneu na estrada, principalmente a noite. aproveito para acrescentar, para quem se importa com o dado, que em nenhuma das situações eu vestia algo "que mostrava mais".

Desta lista de não-estupradores-anonimos citados acima, será que eles responderiam a pesquisa dizendo que concorda que "uma mulher gostosa ou não, de jeans e camiseta merece ser estuprada".

...Mas porque acontece tanto estupro se ninguém é a favor?

3 comentários:

Auro disse...

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3622664&seccao=M%E9dio+Oriente

Anônimo disse...

Eu leio GG e achei bem interessante! Fala a verdade de uma maneira, crua e séria...

G.G. disse...

Tem também os casos na Africa que os homens estupram virgens para se curar da AIDS.
...
Mas cultura não tem nada a ver com estupro!!!!
=]

Rímel "é uma armadilha de satanás".